segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

VerdeAmarelo - Guarujá/Floripa, Circuito Oceânico de Santa Catarina, Floripa/Guarujá

No dia 04 de fevereiro zarpamos bem cedo da Marina Tropical rumo à Florianópolis, com o objetivo de competir no Circuito Oceânico de Santa Catarina, que iniciava no dia 08.


Integravam a tripulação da travessia o Comandante Armando, este escriba, na função de imediato, o Baco, de Camboriú, e o grumete Richard, em sua primeira velejada.

Saímos do Canal de Bertioga motorando, já que o vento era de fraco a inexistente, permanecendo assim por uma meia dúzia de horas. O dia estava nublado e a temperatura era agradável.

No início da tarde o vento começou a soprar aos poucos, do quadrante norte, permitindo que içassemos as velas e dessemos um descanso para o motor (e para os nossos ouvidos).

O Richard, que fazia sua velejada inaugural, já saiu do Canal de Bertioga mareado e não demorou muito para começar a "alimentar os peixes", se é que me entendem, hehehe.

Não parava nem água no estômago do infeliz e ele passou o resto da viagem se sentindo mal. A sensação é péssima, a gente fica com vontade de morrer. Mas o enjôo dele passou como que por encanto quando chegamos em Jurerê, não sei bem porquê, se foi a beleza da praia ou as belezas locais desfilando pela areia, rsrsrs.

Na primeira noite nos dividimos em dois turnos ("quartos"), o primeiro composto pelo Armando e pelo Richard, o segundo, pelo Baco e por mim.

Depois de comermos, o Baco e eu estávamos descansando quando, lá pelas 23:00, o Armando nos chama, para ajudarmos na manobra do jaibe, uma vez que o Richard estava meio fora de combate.

Feita a manobra, assumi o leme e toquei direto, até o clarear do dia, lá pelas 06:00, quando o sono já não mais me deixava ficar com os olhos abertos. Chamei o Armando para assumir e fui pra cabine.

Desci para a minha "caverna", a cama de popa de bombordo, atrás da mesa de navegação, e depois de comer algo, fui curtir um merecido descanso.

Levantei lá pelas 10:00, fazia um belo dia de sol e o vento continuava bom, de intensidade média, da direção nordeste, ou seja, favorável.

À tarde resolvemos içar o balão assimétrico para aproveitar melhor o vento,  e a singradura melhorou consideravelmente.


Quando estava quase anoitecendo, lá pelas 19:30, ouvimos um estouro, e lá se foi o cabo que prende o pé do balão ao gurupés; foi aquela correria pra baixar a vela e antes que tivéssemos tempo de abrir a genoa, entrou o temporal que víamos se formando horas antes no horizonte. As rajadas passaram dos 35 nós, mas como estávamos só com a vela mestra foi tudo relativamente tranqüilo, a não ser as "gotas" de chuva nas costas, que pareciam pedradas, de tão fortes. Mas tudo não durou mais do que uns 20 minutos. Demos sorte de o tal cabo ter estourado - se o temporal nos pega com o balão içado ia dar um trabalho danado.

Abrimos a genoa e demos um bordo em direção à terra, já que estávamos no través de Itajaí mas a umas 40 milhas da costa.


O vento continuava do quadrante norte com uns 10 a 12 nós de intensidade e a nossa singradura era de uns 7,5 a 8 nós.

O primeiro turno da noite era do Armando e do Richard de modo que, depois de comer, o Baco e eu nos recolhemos às respectivas "cavernas".

Lá pelas 22:30 ouço um barulho mais intenso do vento e da água no casco e logo em seguida o Armando me chama para o convés. Pulo da cama, visto o impermeável correndo e em 30 segundos estou lá fora.

O vento tinha rondado um pouco para norte/noroeste mas estava soprando forte, acima de 30 nós, e o barco estava "nervoso", descendo as ondas a 18/20 nós de velocidade. Uhuuuu.

Só que a ventania cobrou um custo alto: voaram para o mar a tampa menor da cabine, o isopor e a churrasqueira de inox, que estavam dentro do bote, e o famoso puff amarelo do Armando, que aparece na postagem anterior sobre o VerdeAmarelo com o Armando devidamente instalado sobre o dito cujo. Por questão de prioridade, o puff foi o único ítem substituído até o presente momento.

Estávamos mais ou pelos pelo través de Itapema, mas o spray que levantava da proa do casco de barlavento quase não nos deixava enxergar nada. Naquela velocidade o trajeto até Jurerê, que em condições normais ainda levaria umas 4 horas, durou pouco mais de 2.

Passamos bem próximos da Ilha das Galés, cujo farol estava apagado. Um pouco adiante já divisávamos as luzes de Florianópolis no horizonte, e a partir daí a navegação foi no visual.

Às 02:30 da madrugada do domingo 06/02 finalmente amarramos a proa do VerdeAmarelo à poita do ICSC em Jurerê. Foram 42 horas de navegada desde a saída da Marina Tropical, no Canal de Bertioga, Guarujá.

Enquanto o Armando e o Richard se recolhiam para dormir, o Baco e eu esquentamos o que ainda tinha sobrado do arroz de Braga feito pela Dna. Jandira, esposa do comandante e almiranta do barco, e abrimos uma garrafa de Cabernet Sauvignon chileno que o Baco tinha trazido. Jantar magnífico. Depois disso, cama, pois no dia seguinte tinha muita coisa prá arrumar, limpar, guardar, secar, etc.

Domingo pela manhã, calor, sol, todas as tralhas molhadas prá fora prá secar, o barco parecia uma "favela" náutica. Só é bom recolher antes que volte a chover, hehehe.




Segunda-feira, enquanto o Armando ia atender a um compromisso em São Paulo, o Richard e eu demos uma geral no barco para deixar tudo pronto para as regatas, que começavam na terça.

Terça-feira, sol, calor, vento de nordeste ao redor de uns 10 nós, regata de percurso média, largando ao meio-dia de Jurerê, indo até a Ilha do Mata-Fome, em frente à praia dos Ingleses e voltando para Jurerê. Primeiro lugar na classe, com vantagem de 47 minutos em relação aos concorrentes diretos. Começamos bem.



Quarta-feira, 09/02, tempo e vento parecidos com os de terça, regata de barla-sota na baía de Jurerê, largada às 11:00. Largamos mal pacas, mas conseguimos recuperar escolhendo bem os bordos. Primeiro lugar na classe, com 7 minutos de vantagem.



Quinta-feira, calor, sol, merreca e previsão (acertada) de chuva no meio da tarde, regata de percurso longa, largando ao meio-dia de Jurerê, indo até a Ilha do Arvoredo e retornando para Jurerê. A classe multicascos, por unanimidade, decide "enforcar" a regata e ir comer camarões e tomar geladas no Tinguá. Sábia decisão, acompanhada pelo amigo Cláudio, do veleiro C'est La Vie, e sua tripulação. Quem resolveu correr a regata chegou reclamando da merreca e do sufoco. Ponto prá nós.

Sexta-feira, calor, sol, merreca de vento, regata barla-sota na baía de Jurerê, com largada prevista para às 11:00. Como o vento não entrava nunca, a CR foi retardando a largada, à espera do vento. Enquanto boiávamos, o Armando conseguiu finalmente consertar o sistema da roda de leme, reduzindo consideravelmente a folga da mesma. Finalmente, lá pelas 14:30/15:00 a CR cancelou a regata e voltamos para terra, para apreciar a canoa de cerveja que nos aguardava todos os dias no final das regatas.

Sábado, calor, sol, vento de uns 8 a 10 nós de nordeste, previsão de duas regatas barla-sota, para recuperar a de 6ª. Primeira regata: largamos direitinho, escolhemos bem os bordos mas estávamos só entre 3 a bordo - o Armando, o Richard e eu, ou seja, necas de balão. No fim, só com a genoa em asa-de-pombo, ainda conseguimos andar mais dom que os concorrentes. Primeiro lugar por 6 minutos e alguma coisa; título garantido. Segunda regata: os concorrentes diretos desisitiram de correr então a regata foi mais descontraída, mas de qualquer forma tratamos de desempenhar o melhor possível.





Fotos das regatas em Floripa por Kriz C. Sanz www.esportesdomar.com.br

Lá pelas 16:00 já estávamos em terra, matando a sede e o calor com as cervejas da canoa enquanto aguardávamos a publicação dos resultados e a premiação, que aconteceu lá pelas 19:00.

Missão da semana devidamente cumprida - primeiro troféu prá Dna. Guigo. Obrigado pela oportunidade, almiranta.


Domingo foi dia de dar uma geralzinha no barco pela manhã, preparando para o retorno ao Guarujá, e depois uma voltinha pela baía de Jurerê com convidados especiais - o Günther, amigo do Armando,  a esposa dele, Traude, e o meu filho maior, Eric.


Com a previsão, posteriormente confirmada, da entrada de uma frente fria de sul no final do domingo, nosso plano era zarpar segunda de manhã bem cedo.

E assim fizemos. Lá pelas 07:30 do dia 14/02 desamarramos da poita em Jurerê rumo ao Guarujá mas, diferentemente da vinda, que foi direta, tinhamos uma escala prevista no Capri Iate Clube, em São Francisco do Sul, para pernoite.

O vento, na saída, não era muito forte, de modo que motoramos até umas 09:00. Depois disso o vento firmou de sul e passamos a navegar só à vela.

Com o passar do dia o vento foi aumentando de intensidade até passar dos 25/30 nós, com rajadas de até 35, sempre de sul, o que era favorável ao nosso rápido avanço, porém começou a chover, o que, além de diminuir a visibilidade, também fez esfriar. Numa certa manobra, este escriba conseguiu a proeza de aterrisar facialmente no convés do barco. Os danos no supercílio, nariz e lábio (meus, não do barco) foram visíveis. Quem mandou andar descalço no convés molhado?


Quando chegamos no través da entrada da Baía da Babitonga, demos um jaibe para rumar em direção a São Francisco do Sul. Aí começaram os problemas. Ao jaibar a genoa, a mesma se enrolou no estai de proa, junto com a adriça do balão e, com as fortes rajadas, acabou rasgando. Conseguimos safar a vela e enrolá-la no enrolador, de modo que à partir daí era só na mestra. Não que o barco tenha diminuído de velocidade, pelo contrário; com o vento aumentando e agora num través folgado, descemos algumas ondas a mais de 20 nós.

Ao anoitecer finalmente aportamos no Capri, cansados, encharcados, famintos e machucados (o barco e eu).

O Armando preparou um mega-macarrão com calabresa que nunca esteve tão bom. Foi comer e cair duro na cama.

Com a vela rasgada e a persistência e até piora das condições climáticas, a decisão de abortar a viagem veio de forma quase natural - não dá prá forçar a barra contra a natureza.

Resolvemos levar o barco para a Marina Cubatão, em Joinville, para efetuar os reparos necessários. No caminho, para culminar, conseguimos encalhar num baixio e a bolina acabou ficando "acavalada" na caixa.

A continuação da viagem está adiada sine die. O barco continua em Joinville.

Na segunda, 21/02, fui a Joinville para, junto com o Richard, que veio de São Paulo, tentar consertar o foil do enrolador da genoa e a bolina. Após inúmeras subidas ao mastro, conlui que seria necessária a confecção de uma bucha em nylon technyl, que está sendo feita pelo Jair, de Joinville. A bolina ainda não conseguimos resolver.





Abaixo, trechos do diário de bordo do comandante Armando, relatando os fatos acima narrados por mim. Em caso de discrepâncias entre os relatos, vale o do comandante, hehehe.

"Zarpamos da Marina Tropical, Guarujá / SP – sexta-feira, 04 fevereiro 2011, contrariando velha crendice Náutica quanto as sextas feiras. Motor, pouco vento sul obrigando a bordejar para fora. Ponto alto da sexta: arroz a Braga, delivery Guigo’s. Sábado: risoto de polvo do Jocas, reciclado, o melhor no genero. Ao amanhecer do sábado estávamos a quase 90 MN. da costa; bordo para dentro aproximando da terra.

- Tripulação: Trovão, Bacco, Richard.
O Richard é primo de minha nora e possivelmente venha a substituir o Gaucho, imediato.. Nunca tinha entrado num barco. O Bacco é um grande companheiro. O Trovão sabe o que é um leme. Capitão com pouca experiência neste belo trimarã.

- Sabado (5/2) 20:00h – traves de Camboriu (S.C). ultra rápido, vento noroeste 30 a 40 nós, chuva, granizo, mar baixo com crista, visibilidade pequena. Descemos a mestra. Íamos dar um rizo, quando tudo passou. Durou menos de 20 min.

- Sábado, 23:00h – distante ainda 35 MN. de Floripa, sozinho no leme, o vento (noroeste de novo) começou a apertar. Por inúmeros motivos, alguns semi-desconhecidos, resolvi encarar a encrenca sem diminuir pano. Foi a primeira vez na vida! Dentre os motivos conhecidos um divertido: “Quando acertamos, quem sabe, erramos no errar “Yen. O exagerado bordo para fora e seu consequente ajuste havia nos colocando em condições perfeitas para encarar este especifico vento com rajadas de até 40 nós: pouca onda (noroeste!) e vento aparente a 90 º (o real deveria estar lá pelos 120º).

Mestra bem aberta, genoa idem, vento traves e vamos lá.

Indescritível

O Verde Amarelo disparou para 16 – 18 nós extremamente estável. As bananas levantavam um véu d´agua colorido (verde a direita / vermelho a esquerda) com seus 2 metros de altura. No casco central uma cascata d´agua ascendente que passava por cima de mim. Não dava pra desgrudar do leme.
            Sem duvida, se caçasse a escota da mestra 40 cm (genoa idem) o bichão dispararia para 25 a 30 nós. Fácil, fácil.
            Após ½ hora chamei o Trovão para abrir totalmente o carrinho da mestra (faltava uns 25 cm). Depois subiu o Bacco que disse que não deveria ter ficado sozinho. Respondi que não estava sozinho. Estava com Deus. ( como sempre, somente alguns dias depois refleti e me impressionei com pergunta e resposta).
Em nenhum momento, senti medo, ou algo semelhante.
Mas era um momento de magia.

 - Entramos na baia de Floripa onde a coisa se acalmou. Em 2 horas andamos 30 MN.

- Sumiu o nosso viajadississimo puff amarelo, a tampa da cabine, a churrasqueira de inox (!!!), geladeira de isopor...
 
XXII Circuito Oceanico – Floripa.

– interessados em fotos, - WWW.esportesdomar.com.br

- barla-sota com vento de 8 a 10 nós, velas velhíssimas, tripulação inexperiente... conseguimos chegar na frente da maioria dos amadores. Uma pata choca perto dos S-40”;

- divertidíssimo foi dar o cano numa das regatas com os bico da proa e irmos todos comer camarão com cerveja na praia do Tinguá. Junto, o “Cest La vie” um velamar 32 , do Claudio e sua belíssima filha teen. Grandes amigos.

- O V.A, somente com a genoa folgada andava a 6 nós para um vento de 8 a 9! Solto, solto, passeou tranqüilo atravessando a baia para confirmar nossa ineficiência nas regatas. Ou a necessidade de novo velame.
Na volta rebocamos o “Cest La vie” deixando-o na bóia numa manobra perfeita. Como sempre, ficamos extasiados com a beleza do local, o acolhimento do iate clube Veleiros da Ilha, e a alegria da festa, Minha primeira Floripa foi em 1994. Como sempre a convicção de voltar. O V.A foi primeiro na classe (quem tem um olho na terra do rei é cego... quem tem um rei na terra do cego... o problema deste tipo de brincadeira é algum amigo não conhecer a citação!)

Segunda-feira 14 fevereiro – saída de I.C.S.C. lá pelas 07:30h, para aproveitar a frente que tinha chegado de madrugada. Direção Capri com possibilidade de mudar para Bom Abrigo. Previsão do Indio guru: Vento Sul – 12 – nós, mar com 1-5 m a 2.0 m, pouca chuva. Realidade: través da caixa d´aço (09:00h) vento 20-25 mar 2,5 m. bastante chuva. Num Jib, o amantilho não estava adequadamente solto e lá vai, (de novo) a tala da mestra.

15:00h – traves de Tamboretes, vento aumentando para 35 nós, 16:30h – vento com rajadas de 40 nós, mar sul com 3.0 metros e impressão de 4 metros. Chuva.

E lá vamos nois traveis! Sem a magia descrita anteriormente, Mar pesado.

Fomos abrigados a dar uns 3 a 4 Jibs devido ao vento 180º Num desses a tribulação se embananou e a genoa prendeu na escota do balão (que não devia estar lá no bico!!!) e tive que ligar o motor e surfar a 20/25 nós para diminuir o aparente e permitir a liberação da genoa. Conseqüência: rasgo com 50 cm.

Num ultimo bordo passamos por sotavento da Ilha da Paz as 18:00h e fomos nos esconder no Capri. (By the way, a segunda tala também foi pro brejo).

- Ancoramos no Capri as 19:00 h e fiz uma macarronada especial com lingüiça defumada.

Algumas conclusões: O Verde Amarelo encara qualquer. Qualquer mar. É impressionante sua estabilidade. Descer surfando ondas com 4 metros mantendo o ângulo adequado com o vento e a onda é algo para viver, não pra descrever. Tem momentos que ele só está apoiado numa banana e tudo imbica pra baixo!

Olhando pra trás, fica claro que com a mestra rizada, buja de tempestade – Tripulação experiente nem o barco, nem nois, sofreriamos. Seria um passeio.

Hoje o V.A. ta em Joinville aguardando conserto das velas e a chegada do sol. Devo ir buscá-lo final do mês."

Conforme a saga for se desenrolando, vou atualizando o blog.

Abraços e obrigado pela atenção.

2 comentários:

  1. Norby ... Estava com minha família almoçando e apreciando à vista na entrada do canal de Bertioga e de repente vejo o primeiro multicasco ao vivo e a cores, era o Verde-Amarelo.
    Abraço, Rubinho.

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  2. valeu rubinho. o barco é mesmo uma visão e tanto, com os cascos vermelhos. principalmente visto de proa.

    abraços.

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