Traduzido
do original https://www.northsails.com/sailing/en/2020/05/cruising-your-multihull-downwind-designs-handling-and-techniques-with-expert-ben-kelly
Amory Ross
O cruzeiro com multicascos se
tornou um passatempo muito popular, mesmo entre os velejadores mais
competitivos. Os mares de todo o mundo viram, nos últimos anos, um aumento
considerável na popularidade de multicascos de cruzeiro com capacidade para mar
aberto. Esses barcos são ótimas plataformas para a vida ao ar livre que
desfrutamos em locais de clima ameno, além de serem fáceis de conduzir por uma
tripulação reduzida como, por exemplo, um casal.
Neste artigo veremos as
diferentes técnicas aplicáveis aos multicascos de cruzeiro e dicas sobre como
pode aproveitar ao máximo suas velas.
O design desses barcos evoluiu para maximizar o
espaço da cabine com mastros mais altos e mais potentes e bujas autoacambantes.
Essas velas e sistemas têm benefícios significativos no manuseio das velas,
tornando a cambada um processo simples; no entanto, ao não ultrapassar o mastro,
como uma genoa tradicional, esses planos vélicos geralmente carecem de área, o
que leva a um desempenho lento em condições de ventos mais leves. Na North
Sails, os designers têm trabalhado duro para oferecer soluções para todos os
estilos de multicascos que melhoram o desempenho, mas ainda permitem facilidade
de manuseio. (Nota do Tradutor – o autor do texto original em inglês
trabalha na North Sails da Austrália, em Brisbane).
Compreendendo o gráfico de uso
As plotagens mudam dependendo do desempenho do
barco. Barcos mais rápidos podem não desenvolver os ângulos mais abertos que o
G2 oferece. Um G-Zero estável pode ser projetado com sobreposição suficiente
para entrar na faixa de uso do G1.
Como você explica a diferença?
Determine a circunferência (ou “cintura”) a
meia-altura da vela. Usando o gráfico de uso, você verá as faixas de uso de
cada vela, determinados por ângulos e velocidades do vento aparente.
O Screecher Code 55
Para um barco que não tem uma
genoa que ultrapasse o mastro, o Screecher Code 55 é a primeira vela a
considerar.
Esta vela é armada no gurupés e é
construída em materiais laminados para se comportar como uma genoa tradicional
em ventos fracos, podendo navegar a até 15 graus dos ângulos de vento real da
buja autocambante, obtendo um ganho considerável no desempenho em vento fraco.
O Code 55 foi projetado para lidar com as cargas
consideráveis geradas ao ser usado no contravento, mesmo em condições leves,
com o benefício adicional de poderem ser usados em ângulos mais folgados à
medida que o vento aumenta, aumentando consideravelmente a faixa de uso. As
opções recomendadas são um cabo de torque de alta qualidade com um enrolador de
baixo para cima (bottom-up furling). Uma faixa de velcro para impedir o
desenrolamento acidental oferece um nível extra de segurança. Se sua
preferência é armazenar a vela içada, um tape anti-UV leve pode ser adicionado.
Na Austrália, essas velas são tradicionalmente conhecidas como 'Screechers'.
O G-Zero
O G-Zero é a vela de ventos
folgados mais popular em multicascos de cruzeiro, oferecendo grande versatilidade
em uma ampla gama de ângulos de vento.
O G-Zero é o
“melhor-de-dois-mundos” pela facilidade de manuseio e longas navegadas em vento
folgado bem-sucedidas. Os G-Zeros apresentam uma forma mais cheia e uma cintura
mais larga em comparação com um screecher.
Eles geralmente são
projetados para serem usados com as escotas passando por fora dos estais
laterais, e se sobressaem nos ventos do través apertado até o través folgado. G-Zeros
são compatíveis tanto com enroladores bottom-up quanto top-down ou
ainda podem ser usados com um snuffer (“meia” ou “camisão”).
Essas velas podem ter tapes anti-UV, mas, devido
à leveza na sua construção, o mais recomendável é abaixar a vela quando não
estiver em uso e não ter anti-UV, para um desempenho ideal. Os cruzeiristas às
vezes usam essas velas sem a vela mestra e, aproveitando a largura do
multicasco e usando a escota mais aberta, conseguem velejar em ângulos bem rasos.
O runner G2 assimétrico
(ou A2)
Para os velejadores que desejam o
máximo em eficiência em ventos folgados, mas menos foco na facilidade de uso, o
assimétrico A2 é a resposta!
Essas velas são projetadas com
profundidade e cintura bem cheias para obter a melhor velocidade na empopada e maior
VMG (Velocity-Made-Good, ou seja, velocidade efetiva em relação ao
destino, boia ou marca) para cobrir o maior número de milhas. Por ser
especificamente otimizado para ângulos de velejo mais rasos, sugerimos que um
inventário contínuo deva ter uma opção de vela través adicional para preencher
a lacuna entre as velas de proa e esta vela. Para facilitar o uso por tripulações
reduzidas, recomendamos um snuffer ou um enrolador tipo top-down.
O uso de um barber-hauler
para alterar os ângulos e posições das escotas pode aumentar significativamente
a faixa de ângulos de navegação e intensidades de vento de uso da vela. Se a parte
superior da testa dobrar primeiro, à medida que você solta a vela e arriba,
você deve desviar a escota mais para frente e para fora, para estabilizar a
vela, de modo que a testa se feche de maneira uniforme – isso é particularmente
importante ao usar o piloto automático para minimizar a necessidade de ajustes.
É comum que os cruzeiristas usem essas velas sem a vela mestra, mas lembre-se
sempre de usar o amantilho e a escota da mestra como se fossem um “estai de
popa”, para maior segurança e suporte ao mastro.
O barber-hauler para cruzeiristas
Estes são sistemas de redução
razoavelmente leves, tipicamente variando de 2: 1-6: 1. Eles têm uma variedade
de usos a bordo de qualquer barco, mas, com velas para ventos folgados com um
ponto fixo de escota, ao invés de um carrinho em um trilho, eles permitem
alterar facilmente o ângulo e o ajuste da escota, enquanto continuam desviando
o esforço da escota pra o moitão principal e a respectiva catraca.
O sistema funciona melhor com uma
patesca, que permite o menor atrito possível ao defletir a escota; no entanto, pode
ser tão simples quanto um anel de baixa fricção, manilha de engate (“gato”) ou mesmo
um mosquetão.
Nas formas mais simples e mesmo sem um sistema
de redução, depois de conhecer seus requisitos do modo de navegação em ventos
bem folgados/popa rasa, esse ajuste pode ser obtido com uma tira fixa ou pedaço
de cabo a frente do estai e pode ser preparado antes mesmo que a vela seja
içada. Um sistema de redução que pode ser ajustado sob carga, no entanto,
oferecerá um melhor desempenho e estabilidade, além de cumprir um duplo papel, como
segurança da retranca contra um jibe acidental e também manter a vela mestra
estável, se você não tiver um burro.
Ângulos de navegação e técnicas para
obter melhores resultados no manuseio
Seja um snuffer ou um enrolador
top-down ou bottom-up, há algumas coisas que você pode fazer para
tornar o processo de içamento ou recolhimento da vela o mais bem-sucedido
possível.
A primeira coisa a estabelecer é a
melhor direção do barco em relação ao vento verdadeiro. Isso vai depender
bastante da intensidade do vento, mais orçado em ventos mais fracos e mais arribado
em ventos mais fortes.
Se você estiver muito orçado, com qualquer uma
das opções acima a vela vai abrir muito rapidamente e em um ritmo não
controlado, causando maior impacto nas escotas e panejamento da vela, e
tornando a manobra de caçar as escotas muito mais demorada e trabalhosa.
O mesmo vale para o enrolamento
ou o “abafamento” (com um snuffer) de uma vela; o rumo deve estar
suficientemente arribado para aliviar a pressão na vela.
Com um snuffer,
é possível deixar um bom comprimento das escotas passado na catraca ou no cunho
antes de abrir a vela. Depois de ter decidido o melhor ângulo da vela, você
deve experimentar a configuração das escotas e chegará à conclusão de que em
algumas faixas de vento, a vela se infla e fica perto da configuração necessária
com apenas um pequeno ajuste. Se você estiver desenrolando uma vela navegando
bem arribado, vai poderá soltar o cabo do enrolador e caçar a escota sem carga
significativa. A partir deste ponto, você pode alterar o curso e ajustar a vela
conforme necessário, sem panejar. Ao mesmo tempo, navegar arribado demais pode
tornar a vela instável e arriscar um jibe acidental ou enrolar a vela ao redor
do estai de proa (o famoso “sutiã”).
O caminho do cabo do enrolador deve
ser simples e permitir que ele corra de maneira livre e desimpedida para melhores
resultados
Considere enrolar ou “abafar” a
vela para fazer o jibe, especialmente em ventos mais fortes, e baixe as velas antes
do mau tempo e não quando já estiver no meio da tempestade!
Minhas sugestões para ângulos de içamento
e recolhimento do A2 são as seguintes; se você registrar as suas próprias
experiências em seu barco e sempre usá-las, seu velejo nos ventos folgados não
será apenas mais agradável, mas também prolongará significativamente a vida
útil de suas velas, adriças e escotas.
- 0-5 nós - Proa de 145 graus do vento verdadeiro
- 5-12 nós - Proa de 155 graus do vento verdadeiro
- 12-18 nós - Proa de 165 graus do vento verdadeiro
Acima de 18 nós de vento, a
maioria dos multicascos não precisará de um A2 para obter um ótimo VMG a favor
do vento.
Outras informações valiosas
sugeridas para registrar e manter à mão como referências são:
- · Quando tomar rizos na vela mestra;
- · Quando e quanto barber-hauler usar nas várias faixas de intensidade de vento e ângulos de velejo em relação ao vento;
- · Quando enrolar parcialmente as velas de proa; e assim por diante...
*Nota
do Tradutor: O texto original, em inglês, foi escrito por um colaborador da
North Sails na Austrália, portanto, a nomenclatura das velas e suas
características se referem aos produtos dessa veleria. Outras velerias podem
utilizar nomenclaturas diversas para velas com desenhos e/ou finalidades semelhantes.
Agradeço por compartilhar conhecimentos
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