Não podemos cair no erro de
imaginar que um barco seja apenas diversão, passeios por lugares paradisíacos,
com areias branquinhas e água cristalina. Na verdade, como diz um amigo, “barco
é 10% diversão 90% manutenção”. Pode ser que a proporção não seja bem essa, mas
deu para entender a ideia, não é?
Além disso, temos sempre que nos
lembrar de um sujeito chamado Murphy e sua famosa “lei” sobre probabilidades – se
algo tiver que dar errado vai ser no pior momento possível, da pior maneira
possível ou da maneira que cause mais dano... Ou seja, seu motor não vai falhar
no píer da marina, mas sim quando você estiver no meio do maior perrengue, bem perto
de um costão, com as ondas rebentando – isso é Murphy na prática.
Por isso, nunca é demais ressaltar
a importância de uma manutenção bem feita, que ajude a minimizar o risco de
surpresas desagradáveis.
Um dos principais (se não o
principal) fatores para a segurança da navegação em nossos barcos, sejam
veleiros ou lanchas, é, sem sombra de dúvida, a correta e adequada manutenção preditiva/preventiva
dos mesmos pois, se for apenas corretiva, o evento danoso e potencialmente
gerador de risco para a segurança já terá ocorrido.
Isso nos traz à presente condição
do meu barco, o trimarã Trovão, um SeaClipper 28 construído em ply-glass
(compensado impregnado em resina epóxi e revestido com fibra de vidro) em 1985.
Um parênteses: cada material tem as suas particularidades -
alguns aguentam um pouco mais de “desaforos” em termos de manutenção deficiente
ou postergada, outros menos; mas uma coisa é certa, todos eles exigem alguma
manutenção, não existe material que possa ser simplesmente relegado ao esquecimento
– isto vale para fibra, sob todas as formas, madeira, alumínio, aço, etc etc,
ou qualquer combinação entre eles.
Quando se compra um barco usado,
mesmo fazendo uma boa vistoria prévia, se acaba sujeito a algumas surpresas,
decorrentes de como os proprietários anteriores (des)cuidaram do barco.
Quando, há um ano, (para ler o post, clique aqui) eu “salvei” meu barco do abandono e do destino fatal de se transformar
eventualmente em combustível para uma fogueira de São João, eu sabia que havia
alguns pontos suspeitos, já identificados na vistoria que eu fiz, inclusive
este no cockpit.
Obviamente o passar do tempo só
faz piorar a situação. O barco foi bem construído, dentro do que a técnica
escolhida exige – o compensado foi impregnado em resina epóxi e depois
revestido com fibra de vidro. O problema é que no correr dos anos, os diversos
proprietários anteriores foram mexendo no convés, mudando ferragens de lugar
etc., sem cuidarem de impermeabilizar corretamente os furos, de modo que o
material do núcleo ficou exposto à infiltração de água.
Somando-se mais de duas décadas
de poucos cuidados e exposição às intempéries, a água que entrou foi agindo e o
resultado é que, por fora, a fibra estava intacta mas, por dentro, o compensado,
em diversos lugares, tinha virado um papelão encharcado. Minha ideia inicial
era apenas consertar os pontos estragados mas, à medida que fui mexendo, me dei
conta que seria mais fácil remover tudo e fazer uma peça inteira nova do que um
monte de remendos.
Como desgraça nunca vem sozinha,
o excesso de umidade presente no compensado afetou algumas partes de madeira
integrantes da estrutura do convés e do casco e, o que parecia, de início, um
pequeno conserto, acabou se transformando em uma obra de bom porte. Vou
aproveitar a função e fazer algumas alterações no layout de modo a tornar o uso
do barco mais fácil e confortável.
Lição – é preferível, em termos
de tempo e dinheiro investidos (sem falar na impossibilidade de navegar), fazer
um pouco de manutenção regularmente do que ter que fazer uma grande reforma de
uma só vez ou, ainda pior, uma reconstrução em razão de um acidente.
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