quinta-feira, 28 de maio de 2020

Qual catamarã de cruzeiro tem o melhor desempenho ... e isso realmente importa?

O debate sobre o desempenho dos catamarãs de cruzeiro

Traduzido do original 


Recentemente, um cliente nos alertou sobre um vídeo no YouTube, postado por um revendedor de catamarãs, que é flagrantemente enganoso e impreciso. De acordo com esse revendedor, os catamarãs de todos os fabricantes de, exceto os da marca Fountaine Pajot, são lentos, inseguros, pouco marinheiros ​​e inadequados para serem um catamarã de cruzeiro.

Embora eu concorde que a marca Fountaine Pajot é um excelente produto (vendemos muitos deles), certamente não é o ÚNICO catamarã de cruzeiro bom no mundo. Existem muitos produtos disponíveis que são tão bons e, como muitas outras coisas, quando se trata de escolher um barco de cruzeiro, muitas vezes a escolha se resume à preferência pessoal, especialmente nesta categoria de catamarã de cruzeiro.

O revendedor, no vídeo em questão, concentra-se especificamente no desempenho supostamente superior do Fountaine Pajot em comparação com algumas das marcas concorrentes na categoria de cruzeiro, como Leopard, Nautitech, Bali e Lagoon.

O fato é que há muito pouca diferença na velocidade entre catamarãs de comprimento semelhante nesta categoria. Todos esses catamarãs são cascos de deslocamento e navegam praticamente à velocidade do casco com eventuais planeios. Portanto, quando conduzidos com eficiência, esses barcos devem ter desempenho muito semelhante.

Ouvimos termos como a relação potência/peso (ou área vélica e deslocamento) sendo frequentemente usados pelos vendedores das várias marcas como um indicador de desempenho. Embora esse seja definitivamente um fator, e certamente tenha um efeito na aceleração e no desempenho em ventos mais fracos, não é o único fator. Algumas marcas de catamarã serão mais rápidas em regatas de percurso curto, enquanto outras serão melhores em longas travessias.


O que se deve considerar também é que, durante o cruzeiro, o desempenho de um catamarã será determinado pelo estado do mar, bem como pela velocidade e direção do vento. Em ventos fracos, provavelmente haveria um screecher ou um balão assimétrico e, em ventos fortes, as velas provavelmente seriam rizadas, o que significa que, no modo de cruzeiro, a maioria dos planos vélicos é otimizada para as condições. Portanto, ao avaliar o desempenho de um catamarã de cruzeiro, há muitos fatores a serem levados em consideração. Esta não é uma discussão simples ou já resolvida.

Fatores e cálculos do desempenho de catamarãs

Para exibir os diferentes fatores e cálculos relevantes no desempenho do catamarã, fomos ao site Multihull Dynamics (http://www.multihulldynamics.com/default.asp) para obter dados  e extraímos alguns números dos dois barcos mais mencionados no vídeo do revendedor, como Lagoon e Fountaine Pajot. Aqui está o que encontramos no site da Multihull Dynamics:


Número de Bruce - Esta é uma relação potência/peso para o potencial de velocidade relativa na comparação entre barcos. Ele leva em consideração o deslocamento e a área vélica da mestra e do triângulo de proa (genoa 100%) do Fontaine Pajot modelo Helia 44. Aqui o Lagoon 450 foi melhor, com 1.07 contra 1.04 do Helia 44.

Velocidade-base - Um indicador derivado empiricamente da velocidade que um determinado barco pode atingir em média durante um período de 24 horas (melhor média diária) sob uma variedade de condições. Aqui, novamente, o Lagoon teve números melhores com 9,82 nós contra 9,46 nós no FP Helia 44 - isso explica por que os Lagoons são tão bem-sucedidas nas longas travessias oceânicas como, por exemplo, o rally ARC.

KSP – número Kelsail Sailing Performance é uma medida do potencial de velocidade relativa de um barco. Leva em consideração a área vélica, deslocamento e comprimento na linha d’água. Quanto maior o número, maior a velocidade prevista para o barco. Aqui, o FP Helia 44, com 6,06, tem números melhores que os do Lagoon 450, que chega em 6,02 - o Helia é um barco mais leve.

TR - Texel Rating fornece um sistema de handicap para barcos que variam amplamente diferentes navegando juntos em uma regata. A fórmula é essencialmente o inverso da fórmula da velocidade-base, com constantes aplicadas para tornar os resultados úteis. O sistema de rating Texel permite o cálculo do tempo para navegar uma determinada distância. Assim, espera-se que um barco com um TR mais alto leve mais tempo do início ao fim do que um barco com um TR mais baixo. O Lagoon 450 ficou com 141, contra os 144 do Helia 44.

Curiosamente, o Leopard 45 apresentou números melhores que os do Lagoon e do FP, como segue: Número de Bruce - 1,25; Velocidade-Base 10,65; KSP 7,68 e TR 122.
Os números do Antares PDQ44 são muito semelhantes aos do Helia 44 e do Lagoon 450.

Infelizmente, não havia dados disponíveis para os projetos mais atuais da Bali ou da Nautitech.

* OBSERVAÇÃO: Todos os dados citados aqui foram retirados do site da Multihull Dynamics  e apresentados de boa-fé, mas sem garantias sobre a precisão dos mesmos.


>> Acesse o site da Multihull Dynamics  (http://www.multihulldynamics.com/default.asppara obter uma explicação completa dos gráficos.

A conclusão deste exercício é que todos esses barcos são essencialmente embarcações de cruzeiro muito semelhantes, com características de desempenho muito próximas, tanto que as diferenças são quase irrelevantes e, definitivamente, não devem ser um fator preponderante na escolha de um barco nesta categoria. Ao escolher um catamarã de cruzeiro, existem muitos outros fatores que devem ser considerados, como qualidade, conforto, habitabilidade, equipamentos, segurança, valor de revenda etc.

Enquanto o revendedor da Fountaine Pajot elogia o suposto desempenho superior de sua marca, dados reais mostram que os  Lagoon ganharam mais rallies de cruzeiro ARC do que qualquer outra marca de catamarã de cruzeiro. 

Essas dificilmente são as estatísticas de indicam que se trata "apenas de um catamarã de charter que navega num raio de 50 milhas náuticas e não tem desempenho", como afirma esse revendedor. Como exemplo, confira estes resultados dos rallies ARC e ARC +, nos quais os Lagoon têm consistentemente andado bem:

2016 Resultados Oficiais no ARC + Trans-Atlantic
Spirit, Lagoon 450 Flybridge – 1º Multicasco
Cat’Leya, Lagoon 52 Sportop – 2º Multicasco
Sea to Sky, Lagoon 450 – 3º Multicasco
Dreamcatcher, Lagoon 52 – 4º Multicasco
Sumore, Lagoon 570 – 5º Multicasco
Opptur, Lagoon 500 – 6º Multicasco
Lea, Lagoon 52 – 10º Multicasco
2015: 380 Havhunden, 1º no ARC+ Multicasco no tempo corrigido
2013: 620 Enigma, 1º no ARC+ Multicasco no tempo corrigido
2012: 560 Feliz, 1º no ARC+ Multicasco no tempo real
2011: 560 Blue Ocean, 1º no ARC+ Multicasco no tempo corrigido e 3º no ARC Multicasco no tempo real
2010: 620 Lady Boubou, 1º no ARC Multicasco e 11º geral no tempo real


Isto NÃO é uma indicação de quão bom ou ruim é um barco em relação a outro, mas sim uma indicação do viés do revendedor!  Temos certeza de que esse debate continuará, mas nossa opinião é de que se deve olhar para o barco no geral e não ficar focar em questões que podem ou não ter sido “fabricadas” por vendedores tendenciosos. Como dissemos antes, muitas vezes se resume à preferência pessoal.

Catamarãs de cruzeiro de alto desempenho


Como sabemos, navegar contra o vento com um catamarã de cruzeiro sem bolinas é difícil, porque o barco tem muita deriva/declinação. Os catamarãs de alto desempenho, no entanto, podem facilmente conseguir isso, pois são uma “raça” completamente diferente e podem realmente velejar em velocidades vertiginosas, orçar bem, navegar com um sopro de brisa e cambar quase sobre o próprio eixo. Os catamarãs nesta categoria são os Outremer, Catana, HH Catamarans, Gunboat e Tag Yachts, para citar apenas alguns. Leia tudo sobre eles neste artigo de David Schmidt da Sail Magazine (leiam a recente tradução no meu blog https://trovaosailing.blogspot.com/2020/05/traduzido-do-original-httpswww.html  ou o original, em inglês http://www.sailmagazine.com/multihulls/performance-cruising-cats-set-new-standards-in-sailing-speed/).

Catamarãs de cruzeiro de alto desempenho estão se tornando mais populares e há muito mais no mercado do que apenas cinco anos atrás, mas não são para todos, especialmente se você não é um velejador mais experiente. Bolinas e mastros maiores requerem mais habilidade e prática do que as do cruzeiristas médio.

Temos corrido regatas em diferentes catamarãs há anos e sempre nos divertimos muito velejando e surfando a velocidades de mais de 15 nós. Mas, por mais divertido que seja, pode ser uma navegada bastante dura em más condições e pode deixar a tripulação cansada e tensa, porque é preciso atenção constante. A essas velocidades, qualquer erro pode ser catastrófico, pois há muito esforço sobre a mastreação e o velame. Portanto, não se engane, velejar rápido em condições um pouco piores é um trabalho árduo, especialmente quando você navega com tripulação reduzida.

Quando apenas nós dois navegamos em nosso próprio barco, realmente apreciamos o prazer de deslizar pela água a 8 a 10 nós, relaxados e confortáveis. Gostaríamos muito de ser capazes de deslizar rapidamente mesmo com ventos muito fracos? Claro, gostaríamos de possuir um Outremer ou Catana! Mas esse tipo de catamarã de alto desempenho custará provavelmente o dobro do preço de um catamarã de cruzeiro “comum”. Vale a pena o investimento para o cruzeirista médio? Discutível.

Com o avanço da tecnologia, mais pessoas conseguirão eventualmente dominar esses catamarãs de alto desempenho e poderão bancá-los, à medida que os custos diminuírem, mas até o momento, acreditamos que o velejador médio pode divertir-se navegando a uma velocidade razoável rumo ao seu destino, com a segurança e descontração de um catamarã de cruzeiro normal, conforme discutido acima. O fato é que um ou dois nós de velocidade, que PODE ser a diferença entre esses catamarãs de cruzeiro, não farão tanta diferença assim na sua travessia.

Em resumo

Portanto, para concluir a discussão, os revendedores sempre são algo tendenciosos quanto aos produtos que representam. Os fabricantes se esforçam bastante e gastam muito dinheiro treinando suas redes de revendedores para que conheçam profundamente os produtos e os representem bem aos olhos do público comprador. Eles esperam legitimamente a lealdade de seus revendedores e esperam que eles apresentem uma imagem positiva para o consumidor. Todos nós entendemos isso. No entanto, quando os revendedores achincalham e deturpam sua concorrência com as questões inventadas para vender seus próprios produtos, fazem um desserviço ao público comprador e à indústria em geral.

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