O debate sobre o desempenho dos
catamarãs de cruzeiro
Traduzido do original
Recentemente, um cliente nos
alertou sobre um vídeo no YouTube, postado por um revendedor de catamarãs, que
é flagrantemente enganoso e impreciso. De acordo com esse revendedor, os catamarãs
de todos os fabricantes de, exceto os da marca Fountaine Pajot, são lentos,
inseguros, pouco marinheiros e inadequados para serem um catamarã de
cruzeiro.
Embora eu concorde que a marca
Fountaine Pajot é um excelente produto (vendemos muitos deles), certamente não
é o ÚNICO catamarã de cruzeiro bom no mundo. Existem muitos produtos
disponíveis que são tão bons e, como muitas outras coisas, quando se trata de
escolher um barco de cruzeiro, muitas vezes a escolha se resume à preferência
pessoal, especialmente nesta categoria de catamarã de cruzeiro.
O revendedor, no vídeo em questão,
concentra-se especificamente no desempenho supostamente superior do Fountaine
Pajot em comparação com algumas das marcas concorrentes na categoria de cruzeiro,
como Leopard, Nautitech, Bali e Lagoon.
O fato é que há muito pouca
diferença na velocidade entre catamarãs de comprimento semelhante nesta
categoria. Todos esses catamarãs são cascos de deslocamento e navegam
praticamente à velocidade do casco com eventuais planeios. Portanto, quando conduzidos
com eficiência, esses barcos devem ter desempenho muito semelhante.
Ouvimos termos como a relação
potência/peso (ou área vélica e deslocamento) sendo frequentemente usados pelos
vendedores das várias marcas como um indicador de desempenho. Embora esse seja
definitivamente um fator, e certamente tenha um efeito na aceleração e no
desempenho em ventos mais fracos, não é o único fator. Algumas marcas de
catamarã serão mais rápidas em regatas de percurso curto, enquanto outras serão
melhores em longas travessias.
O que se deve considerar também é
que, durante o cruzeiro, o desempenho de um catamarã será determinado pelo
estado do mar, bem como pela velocidade e direção do vento. Em ventos fracos,
provavelmente haveria um screecher ou um balão assimétrico e, em ventos fortes,
as velas provavelmente seriam rizadas, o que significa que, no modo de
cruzeiro, a maioria dos planos vélicos é otimizada para as condições. Portanto,
ao avaliar o desempenho de um catamarã de cruzeiro, há muitos fatores a serem
levados em consideração. Esta não é uma discussão simples ou já resolvida.
Fatores e cálculos do desempenho
de catamarãs
Para exibir os diferentes fatores
e cálculos relevantes no desempenho do catamarã, fomos ao site Multihull
Dynamics (http://www.multihulldynamics.com/default.asp)
para obter dados e extraímos alguns
números dos dois barcos mais mencionados no vídeo do revendedor, como Lagoon e
Fountaine Pajot. Aqui está o que encontramos no site da Multihull Dynamics:
Número de Bruce - Esta é uma
relação potência/peso para o potencial de velocidade relativa na comparação entre
barcos. Ele leva em consideração o deslocamento e a área vélica da mestra e do
triângulo de proa (genoa 100%) do Fontaine Pajot modelo Helia 44. Aqui o Lagoon
450 foi melhor, com 1.07 contra 1.04 do Helia 44.
Velocidade-base - Um indicador
derivado empiricamente da velocidade que um determinado barco pode atingir em
média durante um período de 24 horas (melhor média diária) sob uma variedade de
condições. Aqui, novamente, o Lagoon teve números melhores com 9,82 nós contra
9,46 nós no FP Helia 44 - isso explica por que os Lagoons são tão bem-sucedidas
nas longas travessias oceânicas como, por exemplo, o rally ARC.
KSP – número Kelsail Sailing
Performance é uma medida do potencial de velocidade relativa de um barco. Leva
em consideração a área vélica, deslocamento e comprimento na linha d’água.
Quanto maior o número, maior a velocidade prevista para o barco. Aqui, o FP
Helia 44, com 6,06, tem números melhores que os do Lagoon 450, que chega em
6,02 - o Helia é um barco mais leve.
TR - Texel Rating fornece um
sistema de handicap para barcos que variam amplamente diferentes navegando
juntos em uma regata. A fórmula é essencialmente o inverso da fórmula da
velocidade-base, com constantes aplicadas para tornar os resultados úteis. O
sistema de rating Texel permite o cálculo do tempo para navegar uma determinada
distância. Assim, espera-se que um barco com um TR mais alto leve mais tempo do
início ao fim do que um barco com um TR mais baixo. O Lagoon 450 ficou com 141,
contra os 144 do Helia 44.
Curiosamente, o Leopard 45 apresentou
números melhores que os do Lagoon e do FP, como segue: Número de Bruce - 1,25;
Velocidade-Base 10,65; KSP 7,68 e TR 122.
Os números do Antares PDQ44 são
muito semelhantes aos do Helia 44 e do Lagoon 450.
Infelizmente, não havia dados
disponíveis para os projetos mais atuais da Bali ou da Nautitech.
* OBSERVAÇÃO: Todos os dados
citados aqui foram retirados do site da Multihull Dynamics e apresentados de boa-fé, mas sem garantias
sobre a precisão dos mesmos.
>> Acesse o site da Multihull Dynamics (http://www.multihulldynamics.com/default.asp) para obter uma explicação completa dos
gráficos.
A conclusão deste exercício é que
todos esses barcos são essencialmente embarcações de cruzeiro muito
semelhantes, com características de desempenho muito próximas, tanto que as
diferenças são quase irrelevantes e, definitivamente, não devem ser um fator
preponderante na escolha de um barco nesta categoria. Ao escolher um catamarã
de cruzeiro, existem muitos outros fatores que devem ser considerados, como
qualidade, conforto, habitabilidade, equipamentos, segurança, valor de revenda
etc.
Enquanto o revendedor da
Fountaine Pajot elogia o suposto desempenho superior de sua marca, dados reais
mostram que os Lagoon ganharam mais rallies
de cruzeiro ARC do que qualquer outra marca de catamarã de cruzeiro.
Essas
dificilmente são as estatísticas de indicam que se trata "apenas de um
catamarã de charter que navega num raio de 50 milhas náuticas e não tem desempenho",
como afirma esse revendedor. Como exemplo, confira estes resultados dos rallies
ARC e ARC +, nos quais os Lagoon têm consistentemente andado bem:
2016 Resultados Oficiais no ARC +
Trans-Atlantic
Spirit, Lagoon 450 Flybridge – 1º Multicasco
Cat’Leya, Lagoon 52 Sportop – 2º Multicasco
Sea to Sky, Lagoon 450 – 3º Multicasco
Dreamcatcher, Lagoon 52 – 4º Multicasco
Sumore, Lagoon 570 – 5º Multicasco
Opptur, Lagoon 500 – 6º Multicasco
Lea, Lagoon 52 – 10º Multicasco
2015: 380 Havhunden, 1º no ARC+
Multicasco no tempo corrigido
2013: 620 Enigma, 1º no ARC+
Multicasco no tempo corrigido
2012: 560 Feliz, 1º no ARC+ Multicasco
no tempo real
2011: 560 Blue Ocean, 1º no ARC+
Multicasco no tempo corrigido e 3º no ARC Multicasco no tempo real
2010: 620 Lady Boubou, 1º no ARC
Multicasco e 11º geral no tempo real
Isto NÃO é uma indicação de quão
bom ou ruim é um barco em relação a outro, mas sim uma indicação do viés do
revendedor! Temos certeza de que esse
debate continuará, mas nossa opinião é de que se deve olhar para o barco no
geral e não ficar focar em questões que podem ou não ter sido “fabricadas” por
vendedores tendenciosos. Como dissemos antes, muitas vezes se resume à
preferência pessoal.
Catamarãs de cruzeiro de alto
desempenho
Como sabemos, navegar contra o
vento com um catamarã de cruzeiro sem bolinas é difícil, porque o barco tem
muita deriva/declinação. Os catamarãs de alto desempenho, no entanto, podem
facilmente conseguir isso, pois são uma “raça” completamente diferente e podem
realmente velejar em velocidades vertiginosas, orçar bem, navegar com um sopro de
brisa e cambar quase sobre o próprio eixo. Os catamarãs nesta categoria são os Outremer,
Catana, HH Catamarans, Gunboat e Tag Yachts, para citar apenas alguns. Leia
tudo sobre eles neste artigo de David Schmidt da Sail Magazine (leiam a recente
tradução no meu blog https://trovaosailing.blogspot.com/2020/05/traduzido-do-original-httpswww.html ou o original, em inglês http://www.sailmagazine.com/multihulls/performance-cruising-cats-set-new-standards-in-sailing-speed/).
Catamarãs de cruzeiro de alto
desempenho estão se tornando mais populares e há muito mais no mercado do que
apenas cinco anos atrás, mas não são para todos, especialmente se você não é um
velejador mais experiente. Bolinas e mastros maiores requerem mais habilidade e
prática do que as do cruzeiristas médio.
Temos corrido regatas em
diferentes catamarãs há anos e sempre nos divertimos muito velejando e surfando
a velocidades de mais de 15 nós. Mas, por mais divertido que seja, pode ser uma
navegada bastante dura em más condições e pode deixar a tripulação cansada e
tensa, porque é preciso atenção constante. A essas velocidades, qualquer erro
pode ser catastrófico, pois há muito esforço sobre a mastreação e o velame.
Portanto, não se engane, velejar rápido em condições um pouco piores é um
trabalho árduo, especialmente quando você navega com tripulação reduzida.
Quando apenas nós dois navegamos
em nosso próprio barco, realmente apreciamos o prazer de deslizar pela água a 8
a 10 nós, relaxados e confortáveis. Gostaríamos muito de ser capazes de deslizar
rapidamente mesmo com ventos muito fracos? Claro, gostaríamos de possuir um
Outremer ou Catana! Mas esse tipo de catamarã de alto desempenho custará
provavelmente o dobro do preço de um catamarã de cruzeiro “comum”. Vale a pena
o investimento para o cruzeirista médio? Discutível.
Com o avanço da tecnologia, mais
pessoas conseguirão eventualmente dominar esses catamarãs de alto desempenho e
poderão bancá-los, à medida que os custos diminuírem, mas até o momento,
acreditamos que o velejador médio pode divertir-se navegando a uma velocidade razoável
rumo ao seu destino, com a segurança e descontração de um catamarã de cruzeiro normal,
conforme discutido acima. O fato é que um ou dois nós de velocidade, que PODE
ser a diferença entre esses catamarãs de cruzeiro, não farão tanta diferença
assim na sua travessia.
Em resumo
Portanto, para concluir a
discussão, os revendedores sempre são algo tendenciosos quanto aos produtos que
representam. Os fabricantes se esforçam bastante e gastam muito dinheiro
treinando suas redes de revendedores para que conheçam profundamente os
produtos e os representem bem aos olhos do público comprador. Eles esperam
legitimamente a lealdade de seus revendedores e esperam que eles apresentem uma
imagem positiva para o consumidor. Todos nós entendemos isso. No entanto,
quando os revendedores achincalham e deturpam sua concorrência com as questões inventadas
para vender seus próprios produtos, fazem um desserviço ao público comprador e
à indústria em geral.
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