Desde maio do ano passado, ou
seja, há praticamente um ano, que “Trovão” deixou de ser apenas o meu apelido
náutico e passou a ser, também (e finalmente) o nome do meu barco!
O barco, no caso, um velho
trimarã amarelinho (batizado de “Trim”) que encontramos, minha esposa Lu(ciana) e
eu, “largado” há tempo (e “no tempo”) sobre uma carreta, no gramado do
CNT-Clube Náutico Tapense. O "Trim" é um SeaClipper 28, projetado pela dupla Jim Brown/John Marples.
Não vou mentir pra vocês – pelo
tempo que o barco estava abandonado às intempéries, o aspecto dele estava bem
feinho. Sujo, cheio de mofo e, quando abrimos a cabine, SURPRESA!!! – dois
palmos de água dentro. A Lu ficou entre me olhar com cara de
incrédula/apavorada e sair correndo logo dali. Confesso que também me assustei
inicialmente com a visão. Mas, passado o susto, o “racional” tomou conta – o
barco está no seco, logo, essa água só pode ter entrado por cima (chuva); além
disso, entrou mas não saiu, o que quer dizer que o casco está íntegro, sem
vazamentos, e isso é bom!
Bom, passado o susto inicial e
considerando o trabalho que teríamos para limpar, consertar e deixar o barco em
condições de uso, fizemos uma proposta ao vendedor que não era muito mais do
que o valor das dívidas acumuladas junto ao clube pela estada do barco durante
alguns anos. Uma vez aceita, passamos à fase seguinte – “Operação Faxina
Pesada”!
Como a cidade de Tapes, onde
estava o barco, fica a um pouco mais de 100 km de Porto Alegre, onde moramos e
trabalhamos, íamos mexer no barco aos finais de semana, às vezes com a
companhia de familiares e amigos, gentilmente “intimados” a ajudar, atraídos
pela promessa de futuras velejadas.
Na base do escovão, água
sanitária, lava-jato, etc. e muito “muque” (braço), conseguimos, aos poucos, ir
removendo a sujeira acumulada pelos anos de descaso, tornando o barco (um pouco
mais) habitável.
Finalmente, depois de mais de um
mês indo a Tapes trabalhar no barco aos finais de semana, resolvemos aproveitar
um feriadão para trazê-lo para sua nova casa – o Clube dos Jangadeiros, em
Porto Alegre, onde tive minha iniciação na vela há quase 50 anos, pelas mãos do
meu pai, que velejava desde a (sua) adolescência. Mas antes, precisávamos
resolver um “pequeno” detalhe – como colocar o barco na água, pois não havia
rampa nem guindaste. Contratei uma retroescavadeira com um operador super safo,
que resolveu a questão num piscar de olhos – muito mais fácil do que eu
antecipei.
Missão n.º 1 cumprida – o barco
estava na água! Flutuando e sem vazamentos.
Enquanto meus pais decidiram
pernoitar num hotel próximo do clube, a Lu e eu resolvemos dormir a
primeira noite no barco, para curtir a novidade. O problema é que, além do
frio, a cabine do “Trim” (futuro “Trovão”) é bastante acanhada e as camas são
bem estreitas. Em resumo, dormimos como sardinhas enlatadas.
Com a tripulação reforçada pelo
meu pai, encaramos, nós três, trazer o barco navegando pelas 65 milhas náuticas
da Lagoa dos Patos e do Rio Guaíba. O plano era sair de Tapes bem cedo ao
amanhecer, para evitar de chegar muito tarde e ter que atravessar a noite
navegando num barco ainda desconhecido para nós. Mas os planos têm uma maneira
bem própria de se realizarem, geralmente diferente da que imaginamos.
A saída atrasou, o vento demorou
a entrar, quando entrou era da direção desfavorável, as ondas estavam bem
picadas... vocês entenderam a situação, certo? Acabamos fazendo o percurso em
aproximadamente 15 horas, motorando o tempo todo, com ajuda da genoa, pois o vento, entre 10 e 15
nós de intensidade, era exatamente “na cara” – paciência - e, além disso, os
“torpedinhos” da testa da vela mestra estavam com folga nas costuras
(decorrente da idade) e acavalavam no trilho do mastro, impedindo a vela de ser
içada! Mas o dia estava lindo e o por-do-sol na lagoa foi fantástico!
Ao entrarmos no Guaíba, em
Itapuã, já era noite fechada, tipo 21:30/22:00, e fazia um friozinho razoável
(~15°C).
Por outro lado, entrar no Guaíba,
o nosso “quintal”, trouxe uma sensação de familiaridade, uma tranquilidade
decorrente do conhecimento, que ajudou a relaxar e tornar as últimas horas da
travessia mais sossegadas. Finalmente, ao redor da 01:00 da madrugada chegamos
ao nosso destino. O cansaço e o alívio eram tamanhos que só atracamos o barco e
“desmaiamos” ali mesmo.
Missão n.º 2 cumprida – o barco
estava finalmente em casa!
Nos próximos posts vou contar um
pouco das primeiras navegadas, dos consertos que temos que ir fazendo, da
cerimônia da troca de nome do barco, que contou com a ilustre presença de
Netuno, e outras aventuras.
Missões n.ºs 3, 4, 5, ... ainda
por cumprir!
Abraços e bons ventos!
Parabéns "ele te encotrou" que delícia heim!!! Imagino a sensação da primeira navegada,com o Pai!!! Deve ter sido maravilhoso...
ResponderExcluirCom certeza! Abraços.
ExcluirLinda publicação! Parabéns! Queremos mais!
ResponderExcluirObrigado. Aos poucos estou reativando o blog. Boa leitura.
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